Dia de Segundos

Parece-me que já estamos no final de algo. Apenas datas? Apenas marcações?
Tenho todas as incertezas.
Quantos calendários seriam necessários para marcar apenas um dia, um dia de segundos?
Estou agora com uma sensação de riso, de uma largura moral afetada.
Vou me vestir na "passagem" do ano de couros de estrangeiros negros despidos e arranhados por suas amantes. Irei embotar os rostos felizes, e ao brindarem, suas mãos cairão em espasmos.
Não,não...Néscio sou.
Irei estar de branco, sorrirei, estarei feliz por passar um ano em que deixarei para trás os males, e que iniciará um ano de esperanças, de mais um dia de segundos!
Mas desejo à todos, com algumas exceções, claro! Um mínimo momento de ventura, de um riscar no rosto de desejos secretos expostos, através apenas de um olhar, piscar, sentir.
Agora sintam, apenas para você.
Aos outros... não desejo nada. Se o nada já passa de um afago.
Estamos sempre em sentidos opostos!

O Presenciar

Estive afastado. Até mesmo do chão, do qual sempre me repudia. O que me alicia hoje, é o cheiro característico do molhado, da sensação gripal, e da mão morna apertando minha cintura com sua voz sussurrada.
Me detive em certas vontades pois, minha cabeça se inclina e me carrega para o que de certa forma seja o melhor; a verdade com suas distorções; o bem embriagado; o sim instigado pelo não; o mais, sendo certamente tão pouco.
E eu estou aqui, onde a fina e suave chuva é tão apetecido por mim. Onde me trouxe novamente, certo anseio de continuar antes do que já fora traçado. Mas, como disse, minha cabeça sempre se desnivela.
A chuva ao acordar, me fez sentir, desejar um pouco, e até evocar os labirintos do passado. Fiquei na pequena varanda observando sua queda nas pequenas folhas e no portão de minha casa. Me vi sendo chamado por minha mãe, me dizendo que a poeira dos pingos iniciais, nos deixa gripado. Ri um pouco de mim, de me ver ainda com cabelos ainda tão alourado. É verdade? Eu criança me pergunta. Me agacho, e digo que pode ser. O presenciar, continuo...Ouço minha mãe chamar, não mais a criança, ao homem.

Entendi o que foi me dito por aquele senhor "desconhecido".



Alguma resposta sobre mim

Ofusquei em mim, o mais admirável, o plano em plongeé que me aliviava cabisbaixo.
Ai de mim sem sentir. Ai de mim se não houvesse o inferno, se não pudesse me defender do céu. Ai de mim se de Deus não existisse. Ai de mim se não me embrulhasse dos amigos literalmente porcos. E ai de mim se não os fervessem na ceia de finados.
O meu dedo que se move em nervos automatos, me paralisou ao enfiar-se em meu peito e a sugar minha essência. Jogada aos porcos novamente? Me sobrou os planos, os enquadramentos, os filmes, as distâncias, a perspectiva, o drama...
Alguns em desespero de respostas, se aliam a Deus. Outros acreditam em si, e se aliam a Deus, quando a ceifadora lhe estende a mão. Eu já sem, onde estou? As perguntam que se respondem nos confundem. Prefiro a circunstância e um passeio na chuva.
Eu sem imagem, sou uma estática no tempo!

Dispensar sem vontades

Algo em mim desintegra-se paulatinamente, em breves e breves repousos.
Tenho acordado tarde, e me levanto apenas por causa do calor exaustivo. O acordar tarde, não seria uma preguiça. E sim pois, por não conseguir dormir à noite. O meu corpo sempre na ânsia de deixar seu trabalho natural com ainda células tão jovens, precisa de minha vigília, para quê, no raiar do sol o meu psicológico perturbado se convença de que morrer nesta noite, agora não!
Mas sinto que, sempre que acordo, um pedaço de mim se descola, sem reparos.
Levanto-me, tomo um banho, escovo os dentes, lambuzo o rosto com algum creme, almoço, e sinto uma grande vontade de me deitar e de deixar mais um pedaço de mim.

"Sou uma casa que dispensa sem vontades, apenas pelo vento, suas telhas tão velhas!"


Sempre repito simples frases sobre mim. E me absolvo.

Me troco para sair, para me interessar por algum lugar, por alguma coisa. Nem a arquitetura me surpreende, nem os rostos me surpreende, então... fico banzado, e novamente, para onde ir, se não há, se não sou o vento, sou a casa, destelhada.

Nesta noite tão cedo, tentarei dormir profundamente. Se os meus pulmões demonstrarem cansaço, não me absterei. Fecharei apenas os olhos, e imaginarei uma casa sem nenhuma rachadura.

Eu era tão jovem

Eu era tão jovem.

Simplesmente após uma combustão de ânsias, tornei-me jovem.
Compreendo a amplitude, as resoluções, a música surda e sem efeito, os anelos.
Alguém me disse algo, em algum lugar, me disse algo, em algum lugar, quando eu era você transmudado.

Estou ficando bêbado semanalmente. Ponho sempre para fora e me sinto melhor. Com este pequeno esforço e o sabor amargo, esgoelar para fechar os olhos é um detalhe tão significante. Mas, tudo isso, quando eu era tão jovem.

Eu poderia encontrar um motivo para rir. Percorri o meu passado procurando a insignificância de um hábito.
A procura na terra vasta, já o detalhei. E algo simples, quando se torna tão sério para mim, é uma mutação que lhe expilo sem preceito. Com a idade me tornei imbecil, e quando jovem, estulto.

Eu era tão jovem.
Simplesmente após uma combustão de ânsias...me deixo ser submetido aos seus prazeres!

E agora, quem sou eu? Tenho a certeza de apenas uma companhia.
Oh! Admirável. Oh! Sublime sombra!





Entre nós, um espelho


Estava ao seu lado
Entre nós, um espelho
Entre nós, ébrios

Tentava tocá-la
Entre nós, um espelho
Entre nós, dúvidas

Por muito, ausência
Entre nós, nenhum reflexo
Entre nós, agora nós



Listras de um olhar sem afago

Caminhava por minha cidade, por ruas estreitas e escuras. O que ouvi numa caminhada e vi, poderia me despertar para uma sobriedade desumana, e necessária para expectorar qualquer anseio. Procurei, procurei algo, olhando para o céu com grandes estrelas já mortas rasgando o negrume, e deixando listras de sua existência. E quanto choro será necessário para que Deus nos ouça? E Ele diz: E quanto choro será necessário para que Eu, exista?
É plangente.

Com as janelas abertas e em grandes portas, as pessoas comiam, se beijavam, riam, liam...enquanto uma garota era esfaquiada tantas e tantas vezes. Peguei o meu lenço e enxuguei o rosto, acreditando que meu gesto limpasse a vergonha e o meu desespero. Dei as costas e entrei numa casa da verdade. Sentados, os homens que não mentiam, falavam sem compreensão. Esperavam a comida que nunca chegava, gesticulavam suas verdades. Outras pessoas no quarto dos mudos, murmuravam batendo na parede, onde lá, escreviam e rabiscavam seus retratos. Corri, segurando minha gravata para não ser puxado. Saltei o corpo da garota, e antes de seguir, lhe pedi desculpas, por ser o que sou. Ela olhava para as estrelas que caíam...mortas!

Estava extenuado. Queria deitar, tirar os sapatos. Antes, esquentei o café amargo como minha noite. Cochilei alí mesmo. Acordei em mais uma noite, em que todas as estrelas já haviam caído, e a mulher no seu doloroso destino, ainda gemia. Apenas passei.


Tragédia. Momento. Sozinho.

Alguns desencontros, cambaleiam as imagens, assim como meu ócio. Minha bílis ardida, e agora um sono. Encosto a mão no rosto. Lembro-me de tentar lembrar do que havia passado, há pouco, no desencontro, nos... sou um arrimo, leve, encrostado, uma bucha cheia de carbúnculo, e um homem jogado numa janela cambaleante. "Tragédia", era a palavra que havia pensado antes de esquecer. Gosto da palavra.

Ela rodopiava com sua saia num escuro vexame. Sua cor após muito conhecida, como não? Parabéns por nós, lhe digo. Séria como todas as mulheres, um mês, duas semanas.
Eu me rendo por um desejo, e algemado voluntariamente, deixo-me ser carregado por ela em suas costas. Ela diz que irá correr. Lhe digo que é uma boa idéia, pois o vento que agora parado, pode passar pelo meu rosto. Lhe prometo soprar o rosto, para lhe acalentar ao deitar, e esvair o suar.

Todos os lapsos de pequenas tragédias, das ações escolhidas com a pretensão dos melhores desfechos. Contos de primorosas vidas que se afogaram com platéias ofegantes, com mortos suaves no planar de um horizonte marítimo, de escadas que não levam ao alto.

Três momentos... sozinho, com alguém, sozinho.



Círculo de desejos vazios

Haviam sonhos enfileirados, alguns evaporavam com o tempo, outros por pensamentos, outros guardados em caixas transparentes flutuando por cabeças desconhecidas até se adequarem aos seus desejos, às vezes íntimos, quando assim, escureciam e esperavam nas cabeças também enfileiradas.

As caixas das crianças tinham as cores fortes, e de tantos sonhos ali existentes, havia a todo momento, desejos indo e voltando sem revoltas, conciliados me parece. Eram as caixas de sorrisos, distantes das quê, mesmo que literalmente fossem sonhos, não se chamavam assim, e sim, as caixas sonâmbulas. Poderia empregar outro nome, mas concerteza, era isso, e se fosse outra coisa, deveria ser uma outra caixa, noutro lugar e não aqui, e eu, não saberia.

Quando fui obrigado a conhecer meus sonhos, tive que cometer assassinatos, decepar meus amigos, e fugir para uma terra vazia, apenas conhecida por mim. Quando tudo meu deixou de ser criança, me separei de mim mesmo, em excepção do meu coração. Quando o dei para outra pessoa, nada mais fez sentido, e queria a todo instante, nunca desde sempre ter tido sonhos. A terra vazia e de superfície plana, agora enchera de crateras que gemem...sem ventos!

Todas as caixas sem desvio de regra, tinham um símbolo. O símbolo trazia consigo, não só a idéia de um sonho, mas também, o desejo que ninguém deseja. Saltei algumas das caixas em que seu brilho reluziu num instante, e me desfiz em lágrimas...sem lágrimas!

Já não possuia vagalumes em minha caixa, restava apenas o símbolo, e a terra que não era mais plana. Quando descobri onde estava, e me revi, e me arrependi...o vapor de meu único sonho escapou, e assim, sem parênteses, acreditei que meu sonho, fosse tão diferente dos outros.


Fotos - Série bichos





*Fotos tiradas no sítio Jaqueiras por, Traum Bendict - União dos Palmares - AL (20/09/09)

Fotos - Série Pessoas




*Fotos tiradas no sítio Jaqueiras por, Traum Bendict - União dos Palmares - AL (20/09/09)

Vermelho Silêncio

Me falaram por muito tempo sobre as cores. Decorei-as, e em cada dedo, escrevia os seus nomes e as representações dessas, em sentimentos. Vermelho, azul, roxo, amarelo, verde... Adoro a cor de minha mão direita, as da esquerda sempre as esquecia, não de propósito, era uma automatização.
Via as cores com belíssimos tons de cinza, diferentes luzes, sombras. E no princípio, quando não sabia, o mundo acinzentado me servia para sondar os lacres de meu espírito.
Diziam que os espíritos são brancos. Mostrava minha mão, e indicavam a cor escrita. O meu polegar esquerdo, era a cor dos anjos celestiais. Então, sempre quando estava com medo em minha infância e ainda hoje, aponto meu polegar.
Já jovem e com anseios de minha natureza inquietante e silenciosa, me falaram sobre o amor. Era alguém de quem eu gostava, sentia a sua cor, mesmo enxergando apenas os cinzas. Era um cinza diferente de todos que já havia visto. Foi a única vez que aqueles tons jorraram em círculos místicos, e pulsantes. Explicou-me que era um vermelho que ela sentia. Lhe estendi a mão direita, e em minha palma, apenas escrito: "Vermelho".
Ela sorriu, e sussurrou:

"Arranque sua mão direita"






Orações mudas - Capítulo II

... O fenestral, meu reflexo...qual?
Após me observar num longo espelho que nunca notara ali, desconheci que aquilo fosse eu. Como uma benção erguida da penumbra, pudesse estender o milagre da salvação para meu corpo, para meu ser? O reflexo era real, até que ponto?
A farsa seguida de um desejo inconstante, da mudança, de um agora não, do desejo saciável de um lábio que não transmita mentiras, de um corpo que não transmita através de seus poros apenas álcool, de uma mão que não seja invisível ao tocar-me, e de um corpo que não trocasse de cabeça sempre que sai de casa.
Como fui belo através do reflexo! Como desejei a beleza, através de meu pensamento! Quantas cordas penduradas agora refletem, e balanceiam em tons musicais menores!
Oh! querido Jó. Tu sabes a dor das feridas, tu sabes mais que eu, mais que todos. Tu sabes pois, teu espírito foi criado apenas para fazer parte de um jogo banal, para dar exemplos aos doentes...como eu.
Outra vez a luz, outra vez a poeira que se ergue, e olho para o meu corpo "real" deteriorado, o de sempre. Percebo que o reflexo é a mentira, e murcho, e deito na cama úmida de urina e fezes. Tentei escapar através da fresta. Acreditei que fosse Ele por instantes, num aviso sutil de poeiras que escapavam, simples poeiras que escapavam de um ar pesado. Era tarde para mim, a dor aguda retorna, e a desejo pois, também entendia sobre minha mentira.
O que vi, o que desejei, o que senti, o que toquei...havia morrido na companhia de uma mosca.
E expirei, bem fundo!





Orações mudas

Eram abcessos por toda parte do meu corpo. Sentia, creio apenas, as moscas. Zuns, zins,zuns...
O gosto em minha boca era azedo, e imaginava qual a cor desse sabor, um verde, às vezes amarelo com misturas de um vermelho sangue. Cuspi uma vez, e a saliva ao cair nos olhos causou uma conjuntivite, que piorava quando tentava tocar os olhos com minha mão cheia de pústulas.
Recebia visitas diárias de padres, freiras, protestantes... eles não sabiam, mas também via neles a minha doença. Não entendia, como conseguiam andar. Eles sentavam, abriam suas bíblias, perguntava qual o trecho ou o apóstolo que eu queria ouvir, e após, fixavam um olhar de reprovação para mim.

"Perguntou ainda o senhor a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal." Jó 1:8
.

Liam, faziam o sinal da cruz, e às pressas, cochichavam seus segredinhos. Os desdenhava em silêncio, e Jó era a resposta às suas perguntas, saindo em quase colapsos de suas bocas, as quais mantinham um aspecto tão horripilante quanto o meu.
Na noite, aprisionado pelo meu estado, com tosses que faziam doer todos os meus orgãos, sentia-se satisfeito por estar só. As moscas desapareciam, descansavam após um dia de sucções envenenadas que saiam de mim, e tinha certeza quê, de uma hora para outra, na manhã, não mais voltariam.
Passei três anos em tal situação, cito "tal" como se fosse uma causa desnatural, mas era senil. E minha juventude perdida, era ridicularizada em tónicas de assombrosos malfazejos. Vinte e seis anos e uma pueril existência. Cof,cof,cof... A cama úmida de urina.
Nunca um adeus, nunca um jamais. As moscas já retornaram. Hoje será um Novo Mundo?
Através do fenestral uma luz... meu reflexo no espelho...


A ampulheta, a guilhotina, e o não paraíso

Quando imagino o passado, todos os pesares se sustentam. Nego-os, pois não posso usufruir suas mudanças, mesmo que as tente, sei que não, não é assim. E a cada tempo que passa, o que ainda é ruminado, faz-nos derreter nossas células, envelhecer, sendo assim desusados. Crer na velhice como uma sabedoria, é tão enganador, pois levo este engano a minha imagem. Prefiro acreditar (como já foi escrito), na divisão singular da humanidade; os miseráveis, aqueles que procuram num todo, a sua bem quista situação financeira, sendo forçado para isso, se abster aos seus desejos...ínfimos, e... sobre os extraordinários, assim como sua raridade de um em milhões de anos, deixe estar...
Os exemplos são repetidos, com nenhuma fagulha de mudança mas, tornando-se velhas, mesmo que intocadas, não através do tato, e sim pela areia do tempo, pela ampulheta infinita que vira e revira. A desobediência incrustada, também escapa, e a guilhotina de segundos após segundos vai ao céu. Quem era o meu sedutor, há não ser eu mesmo com um sorriso entreaberto e de soslaio? Prefiro ainda ter morrido no ventre.
Quando soube do pecado mortal, conhecimento adquirido na infância, imaginei que seria difícil não cometê-lo. Então para uma criança, morrer jovem seria uma boa maneira para se levar ao céu, claro que, sem cometer o pecado que lhe expeli do paraíso. Envelheci da pior forma. Me exteriorizei simuladamente, e quando envelhecemos aliás, é a única coisa que criamos um grande conhecimento... simular, fingir!
Queimei os cabelos, pois não tive forças de trancar a respiração num pequeno lago, nem vi a cobra que poderia me engolir. O escarro para mim já não é maçante, e me previno ao me masturbar envenenando meus hereditários.
Ora, ora! Envelheci da pior forma.



O portão de girassol

Ao deitar, pensei como sempre no amanhã. Resolvi (e já era hora) ir visitar dois amigos, ou melhor, o irmão de um amigo, e um amigo mais íntimo.
O calor do dia e uma irritação, desfez meu plano. E neste pensamento, já quase que recorrente, fiz o trajeto, a conversa e até senti, como se estivesse acontecido, tal o ímpeto. Antes de mais nada, quero frisar, que o plano fazia parte para que o texto aqui escrito, fosse deveras mais coeso e quê, o meu pensamento (estou minimizando a sensação) não exorbitasse, e através de tal gravidade...um buraco negro, cintilante.
Dou explicações, para entender-vos, que provisoriamente busco à realidade. Mesmo quê, entre pensar e viver, prefiro pensar. Mas vamos, sem rodeios. Pois, mesmo em pensamento, resolvi escrevê-lo.

Há visita aos amigos, se passou no cemitério da cidade. Demorei para encontrar uma das "moradas", a outra já há conhecia bem, era familiar. Me vesti à rigor, levei um punhado de flores, e coloquei em cada, três raminhos. Rezei sem pensar, sentia saudades.
De W****. Me lamentava por ter ido embora, e em nenhum momento cogitar a idéia de não vê-lo mais.

"O som grave de seu instrumento, continuará reverberando em meu espírito. Belo moço."

De meu avô, M*****. O de não ter passado mais tempo com ele, dele não ter me visto crescer, e de não tê-lo dito, o quanto o amava.

"Quando o amor é eterno, e o sentimos sem... Desejaria odiá-lo, e não sentir nada por ti. Se fosse me dado, uma nova chance para te ver."

Quando deixei o portão da casa dos que dormem, lembrei de uma história que havia lido, de um homem que condenado à morte, desejaria viver eternamente encima de um cume, deserto e solitário. Mas, que não lhe tirassem à vida.
Viver, viver, viver...É isso na verdade, a única coisa que importa.



Alguma coisa que não se possa ler

Ela adorava toques, suas mãos passando pelo seu corpo, quando tocava seus seios e arrepiava-se quando acariciava seu rosto. Dormia apenas passando a mão levemente em sua barriga, e o barulho do ventilador ao longe, trazendo um pouco de vento, lhe fazia sorrir de prazer próximo do sono.
Era uma leitora assídua de Samuel Beckett, e após ler Primeiro Amor, lhe atiçou ao coração batidas cruéis. Sentia-se completa. Sua recatada maneira era decomposta apenas em seu quarto, lendo.
Poderia detalhar com características de uma flor sua beleza, mas lhe atribuir apenas, à sua arte de ler, já me é o suficiente. E além, seus quadros de infância que eram mais admiráveis do que os de sua juventude e que seriam melhores do que os da sua velhice.
Em seu caderno, o que poderia ser um diário, ela sublinhava: "Alguma coisa que não se possa ler". E começou seus escritos assim:

"Vou escrever sobre o que chamam de amor. Vou costurar com esferográfica e enodoar o amor de vermelho. Vou sem intenção alguma, pois agora ir, já está quebrado"
Alguém em 03/06/....

Foram os anos, mesmo quando já estavam quebrados. Alguém escrevia sobre o amor ainda, e sempre sublinhava seus títulos. Costurou o amor não só de vermelho, tentou várias cores e até as misturou não gostando do resultado. Lia uma vez por ano seu livro preferido e sentia as batidas cruéis. Foi tocada algumas vezes por outras pessoas, odiou por conhecer o amor.
Um dia parou em algum lugar. Sentou e após, suas costas tocam ao chão.
E assim, em seu último dia escreveu:

"Aqueles com o coração humilhado, certas palavras. Aqueles com o coração frágil, como o meu, certos sentimentos..."





As velhas e conhecidas

Áspera com saliências predominantes, incumbidas para agregar dores. Minhas mãos...
Ainda irreconhecível, escondidas entre luvas rasgadas, mordidas para controlar a raiva. Agarro-me ao meu pescoço impedindo o ar - áspero também - rasgando-me como se me alimentasse de pregos ou engolisse arames como se fosse um macarrão dominical.
Meu rosto agora camaleónico e tufos de cabelos espalhados ao chão exaspera-me. Saltos e saltos, e lufo numa angústia agónica.
Agora ao chão frio numa pedra quadrangular e nu. Em arrepios e só. Uma água enlameada escorre de dentro de mim, toda a sujeira que sempre acreditei.
Estive ausente, e através de minhas mãos, continuarei.



As Sobras

Os espaços agora, são outros. As frestas reluzem em sombras, num quarto ainda não íntimo. Ando em passos mais rápido para passar despercebido. Pessoas gordas, outras magras, rostos familiares ainda que deteriorados em um contexto explicável, espremido...
Me esconder digo, é um pretexto pessoal, para me satisfazer em certo ponto, da minha invisibilidade natural. Como no momento, tem sido difícil expressar o que se passa. Talvez pudesse passar Querelle do Fassbinder em praça pública ou citar Percy Shelley em sussurros matinais. Enfim...
Estou calmo, não digo feliz. Estou apenas curioso. Curioso com...
O ar mais abafado e o vento que adiciona a quentura, um alívio.

Uma chuva miúda e uma caixa secreta

Sangue corre atráves do chuveiro. Me molha, ao mesmo tempo que seca e cola em minha pele.
Fiquei corado, eis a simples observação que tenho, quando acontece um "desastre".
Desastre, pois não sei o que se encontrava na caixa de água, da casa em que agora estou, da casa que à pouco irei partir e que me entedia.
A toalha que é a única visita para expor meu corpo nu, me acolhe e me esquenta. E atráves dela, o vermelho com seu odor de vida extinta, é retirado do meu corpo já também extinto, seco, tísico e vácuo.
O sangue que escorreu em mim, era de um feto. Talvez de um animal, talvez o meu, talvez do meu filho, talvez o da minha neta, talvez o feto de Deus. Foi algum tipo de batismo?
É claro que, é apenas uma história que inventei, com um significado escondido em entrelinhas que me veio com a chuva miúda que caia enquanto tomava um banho quente e sem sensações.
Era apenas para dizer: "Já estou lá, onde talvez não quisesse estar, que me sentirei sempre aqui, pensando não estar..." Eis o que sou, um estandarte de lamentações.
Queria arrumar, ser um mágico com uma cartola infinita que tirasse coisas finitas e inesquecíveis. Que eu tivesse uma caixa, mas receberei um dia uma caixa, não?
Mas quero antes, vômitar todo meu sangue, gota por gota. Para saber se existe algo, além disso.

Cortinas e bailarinas

Hoje instalou-se um dia nublado. Não me recordo de ter ouvido a minha voz, apenas desarrumei, revirei as coisas e não saí do lugar. A casa já está com ecos, as cortinas ainda movem-se com pancadas leves de vento frio, bailarinas poderiam rodopiar em silêncio, mulheres poderiam todas se despir e levar a mão ao seu sexo, poderia ter dado uma festa e deixar marcas de sapato da sala até o lugar que era o meu quarto. Na verdade, tudo isso aconteceu...do meu jeito.
O que me dói?
Deixar algo para trás, as provas. Não,não... não falo de amizades, esse complexo vexame. São as minhas coisas, entendem? A casa vazia, as mudanças, entendem?
A vida é inexistente sem esses âmagos, sem os registros, as digitais cessam num lapso.
Há existência, viva!
Danem-se quem você decepcionou, quem você deixou para trás, quem você tacou o dedo no ânus.
Há existência novamente, viva!
O vazio independente do que seja, me abala.
E sobre preenchimentos, sou contrário.


Pitoresco

"Talvez prolongar o amor, o sentimento. Prolongamos nada mais que os erros, absurdos, e o amor insuportável"



Momentos que reverberam

A tosse vem com engasgos na noite fria e com o cheiro úmido do quarto. Fico a pensar se faz bem manter-me enclausurado num lugar em tal estado. Por isso na noite, no momento que me deito sem sono, uma pequena garrafa de água me acompanha, fica ao lado, aberta e gélida. Um pouco de álcool seria muito melhor, além de me fazer dormir, evitaria a tosse, evitaria minha consciência de se desesperar com futilidades e se imbricarem, amontoando-se em vãos. Fico sentado com três lençóis grossos e aguardo... nada!
Ascendo o abaju, apago, a luz da saleta incomoda, apago, a escuridão suga, ascendo a luz avermelhada da saleta quanto o do abaju, me viro, o cachecol espalho entre o rosto precisamente nas narinas e tusso. Aguardo.
Inicio o ritual após o badalar das zero hora e aguardo até os barulhos dos carros, onde já cansado e inconsciente me entrego a prostituta sonífera. O tempo caminha rápido e o desinteresse é completo por essas vias insalubres.
Quando ela estava comigo, minha azeda Débora, poderia me deitar e apagar a luz sem desprezo, e seria mais agradável até, deixá-la acesa, se fosse apenas para lhe observar e lhe perguntar através de seu sonho: "Onde sem você, irei novamente escutar o seu belo sorriso? Se estamos mortos a luz não deveria ter nenhuma cor."

Para Débora e para os momentos.


Idade da Razão

"Me modernizo lendo os autores do passado, ouvindo as músicas do passado"




O ser negativo

"E caminhamos... para trás, para trás. Até se chegar ao fundo, num raso infinito."




Singela criança

"Dentro dos meus olhos, tem um monte de sonhos...
Eu sonhei hoje!"

Citação de Bianca, minha prima/sobrinha de 5 aninhos, da janela de sua casa.





Exatidão de não ser


Talvez cortar a garganta.
Simular subjecções entre companheiros que acabaram de se despedir em vão.
Citar e observar as complexas manifestações do belo e do sublime nos meus sentidos, hoje dispersos.
Músicas desagradáveis vindo de todos os lugares. Por cima orações... não entendem que não procuro salvação.
Roem minha garganta por dentro. Forço o vômito. Parece que são pessoas pequeninas, que reclamam e me chamam de repugnante (ecoa por dentro ou sinto-os?), reclamam mais, pois eu que os engoli. Pequenos espíritos que substituí pelo meu. Personalidades e moralismos degradados e absurdamente antiquados.
Lampejos?
Sacrilégios?
Homilia de revoltosos?
Acho que não. É apenas a individualidade e o cinismo.

Doces e Cantos

Atráves de conjecturas, fazia rabiscos para senti-la atráves das expressões de minha querida irmã.
Entre linhas e linhas, num vulto enigmático de impressões, nada fiz.
Apressar os dias nada vale, há não ser para causar uma grande insônia.
Quando me atrevo em algo, em que não possuo talento, fico completamente desmembrado.
Agora posso vê-la, há pouco poderei tocá-la, beijá-la, lhe cheirar as bochechas...
Seu nome, Cecília, a padroeira da música...
Minha doce e linda princesa, Cécile.



Em erros


"Num retarde, tragédias.
Irei, dado um passou seguinte, num retarde."



Estado das Coisas

Estou apenas perambulando pela cidade. A pé, de metrô, ônibus...observando. Guardando na memória, tentando exemplificar e minimizar determinadas circunstâncias de meu dote, meu dom agraciado de veneno, malignidade. Ruas vazias, pequenas, longas, cheias, prédios com arquitetura ridiculamente contemporânea, brechós...
Tenho insuficiência de imaginação para transcrever as imagens, saibam que, são bonitas, eram mais. Pode ser estranho mas, tenho pressa de exercer o que prometi para mim, a base de minha sustentabilidade espiritual e filosófica. Cada vez mais, sou atingido com uma bala, bem na nuca, à queima roupa. E minha veia solitária insisti em procurar alguém e desabafar, sou ridículo. Quando esquecer sempre foi para mim uma dificuldade que trouxe de minha criação, hoje esqueço até, que devo dormir.
Em minha caminhada para guardar as lembranças de minha solidão, para não esquecê-las e as deixar ao vento novamente, como o conto indígena, verbalizar esses pensamentos os tornaria sólidos. Pensava nisto, ao olhar uma prateleira com bonitas boinas e gravatas. Onde era mesmo o lugar?

- Ficaria perfeita em você? - Alguém diz
- A gravata ou a boina? - Replico sem olhar para trás
- As duas. Só quê...a boina deveria ser de outra cor - Nesse momento já estávamos de fronte
- Você não deve entender nada de moda? - Lhe disse
- Moda são para pessoas com baixa auto-estima - Sorrimos

Andamos, fiquei por segundos satisfeito de ter saido de casa. Há muito me sentia um vagabundo que vaga sem sentido, faltando-me apenas uma garrafa de vodca na mão. Mas, era preciso, preciso me recordar.
Lhe disse que restava algum pó de café em minha casa, era a única coisa que ainda tinha, e um pouco de leite, claro. Estava frio e a companhia por enquanto era intrigantemente agradável.
Aguardava a lástima acontecer e não tenho precaução sobre. É a gravidade.
Sentamos em minha mesa arredondada e lhe expliquei sobre meu dom. Sobre como em uma porcentagem quase impossível de acontecer algo errado, eu consigo atingir tal ponto crucial com uma maestria divina, preciosa e calculada.

- Eu não acredito em você - Ela diz
- Vá embora, me desculpe!

Fui até a porta e abri-a. Ela pega seu cachecol e sai. Tento terminar o café e não consigo, algumas lágrimas tentam desabar e as reponho.
Alguém bate na porta. Ela olha para mim, chorando.

- Eu não acredito em você! - Novamente ela diz.

Algumas pessoas voltam...

Um Jovem quando era Jovem...

Sobre o que posso me atentar mais, há não ser pela elocução que saem dos meus lábios?
Havia me desprendido dos versos sonoros e me entrelaço agora em escritas.
Abandonado estou. Não me ouço mais.
Se tenho que me dizer algo, anoto, leio e o jogo na lixeira do banheiro misturado com minhas fezes.
Assim são... minhas palavras.
E quando as regozijo, em minha plenitude viés, o hálito é de um dente apodrecido, escarnecido, frouxo.
Não encaro. Não os falo. Sem movimentos, apenas círculos e mais círculos, num redemoinho de sodomias.
O amor quando o vi, lhe gritei: "Sua velha asquerosa". Foi o último balbuciar, agora escrevo, não me ouvi, jamais.
Ela ri e joga no meu pensamento: "Não me terás, não me terás" e canta, " Um jovem quando era jovem, sentia-se capaz de amar. Amou após envelhecer, a morte que lhe espreitva".
Hoje jamais falar. Apenas sentir o que me é desconhecido. Partir. Preciso partir, jamais falar.

"Preciso me calar urgentemente e morrer com diligência."
Traum Bendict

Um Pedrisco

"Quando chegar lá, irei comprar um diário de verdade.
E irei relatar, apenas, sobre minha verdadeira vida"
Traum Bendict

Retirado de um inscrito, datado de 3 de junho de 2009.








Sensação Iminente

"Irei parar e sentar
Mas, penso que irei desintegrar"

Traum Bendict


Recôndito

As crianças corriam, esquecidas de seu tempo há pouco. Riam com os olhos cerrados, com a cabeça prostrada e os braços balaceando.
Seus mundos não exigiam dívida, seus sonhos eram a visão clara de seus sorrisos, e seus sorrisos a dádiva do prazer de então viver.
Até que houve a tragédia de crescer. E crescer representa se perder, tatear, vendar-se...
Rostos inexpressivos e sentimentos recônditos.
A criança agora lê Albert Camus e se encontra desejável. Prepara o amanhã, o representando na fotografia de uma estação invernal. Suas roupas pesadas e seu cachecol, deixa-o mais bonito.
Ele apenas se prepara. Prepara-se para partir e olhar para trás, olhar a cada passo e a cada passo tentar ao menos, expulsar suas lágrimas.
O homem deseja agora fechar o livro e iniciar um novo conto.
Um conto de uma criança, que esquecia seu tempo de agora há pouco.



Estrangeiro

"Estou numa fronteira
Morto!
Sentindo-me vivo"

Traum Bendict

Confraria de Idiotas

"Não sobrará um escárnio
Restará um rosto, um sorriso transluzente
Dançarão com a felicidade do amanhã

Com seus sentimentos volúveis
Atirarei num porco funesto
Colocarei na mesa dos seus
Uma confraria de idiotas, me ridicularizam

O rosto que sobrará é apenas o meu
Transluzente por odiar
E a poesia sobressaltará
Pois me vigio de tua repugnância"
Traum Bendict

Vinho regado à chuva

Pensei em sair, tomar um pouco de vinho, dançar, conversar...
Não tive outra coisa em mente, há um bom tempo. Depois desisti e retornou como agora.
Quem sabe em um parque, onde possa me deitar e passar uma longa noite de ressaca.
Resolvi então, colocar meu sofá velho no corredor fora de casa e sentar-se até adormecer.




Se...

- Mamãe, quero acordar - A menina chorava

Ela de alguma forma sentia seu corpo em sua cama. O sonho sendo neste momento mais forte, o choro a distância, a voz ecoando. A luz era a sua sombra, e era ela que abria o caminho por entre os rugidos e mãos que rasgavam seu vestido amarelo que havia ganho em seu aniversário.
Numa mudança repentina - assim se dá os sonhos - na estrada agora reta e estreita, a menina seguia em sussurros. Seus pulmões se encontravam límpidos, algo que ela notou ao respirar conscientemente naquele momento. Seu vestido, não se podia dizer o mesmo. Ela percorreu toda a estrada, e desiludida de talvez não acordar e de não tomar o café com seus pais, ela sentou-se...

- Filha, filha...acorde - Ela como que, tomada de um susto, abraça sua mãe
- O que houve? - A mãe pergunta

A filha conta seu pequeno e breve pesadelo à mesa do café da manhã. Sua mãe, seu pai e seu irmão, ouvem atentos e sem piscarem, toda narrativa surreal.
Os pais como sempre, advertem a filha para não tomar chocolate quente antes de dormir, o que talvez, supõem, havia sido a causa.
Antes de sair da mesa, sua visão se destorce. Seus pais, percebendo seu desespero, continuam estáticos, sem nenhum movimento de empatia com seu problema. Ela percebe que ainda está deitada. E a sombra novamente, ilustra o caminho ao qual ela deve seguir. Agora, não mais chorava. Apenas se perguntava: "Será que isso, é realmente o meu sonho?"

"Não chore, não, minha mãe
que enterrado hei-de ter vida"
Ana Akhmátova


Paul Delvaux

Reincidentes

Desisti de muita coisa. Não compreendo até, os meios que me levaram ou os meios que me coibiram em certos casos.
Sair de uma sala, se entreter com imagens em que não as observo, dizer não, não ir, dizer sim com um não, fechar os olhos num amor em que não existe, tocar, beijar comprimindo os lábios para dentro, sorrir falsamente e desviar o olhar simplesmente para baixo... me adverti!
O quê de valor adquiri, há não ser alguns móveis que irei deixar para trás? Imaginar hoje, que após entrar em meu balão, lembrarei apenas com saudades de como à luz do meu abaju brilhava numa tonalidade extremamente hipnótica no meu quarto azul, no canto especialmente dotado e pesquisado para ele. Percebo que desisti de muitas coisas e que não me arrependo, apenas as cito, às vezes com rancor, outras vezes por com a desistência, ter podido respirar melhor e evitar os olhares moribundos.
Tentei ainda fixar-me, se entregar não indo, mas, iria assim desistir.
Talvez pudesse acalentar a palavra desisto, com escolha. Mas, escolha é uma opção, desistir é não continuar. Então, sem amenizações. Não creio que cometo pecados.

Metas:

"Farei o possível para evitar qualquer cadáver (principalmente os vivos). Desistirei a todo momento. Fracassarei a todo momento. Me asbterei por odiar réplicas. Errarei por desejar errar, machucarei outrem por ser um humano."

Estou apenas cansado, talvez.
Diga tudo bem e tudo simplesmente ficará. Se estique e chore com seu torpor.
O que Eles querem? Determinar o que você quer, pois assim o é. Seu desejo não importa pois, tem que satisfazer o D`eles. O que representa essas práticas?
A quantidade de "amigos" cremados, é o suficiente para entupir o vaso sanitário. Mas preferi amontoá-los no chão e observar um cachorro fazer suas necessidades e ir embora aliviado.



Respiro Profundo

E assim, René Magritte, dá sentindo ao amor.



"No meu aniversário. Em "meu" dia. Deseja-me apenas, antes de sair, um adeus
Beija-me friamente. Mais frio ainda, do que esta manhã de três de junho
Na noite, aguardamos o silêncio. O relógio badala. Nos abraçamos
Parabéns, ela diz.
Conto-lhe novamente um pouco do meu passado. Não se importa.
Não sou, não sou ela...
A cama antes de casal, diminui. É uma linha agora
Sentados, nós dois, aguardamos o sinal, uma nuance
Vamos dormir?
Esclareço em auxilío ao meu desejo que, estou ficando velho
Vamor dormir?
Antes um cigarro, um banho, um café, um sal na pele
E respirar profundamente e aguardar que à noite, não se curve perante o dia"

Traum Bendict




"Hoje as crianças cresceram. Não foi durante muito tempo. Durou um piscar.
Acordaram e sentiram um aperto no peito. A dor de crescer instantâneamente.
Com o crescer, a preocupação passageira de uma proximidade maior de um fim admirável.
Todos eles se perguntam. Olham atráves apenas da distância. Algo desconhecido os ligam.
Um adorno cobre suas faces. Passear sorrindo e transluzir suas inocências, não serão mais capazes.
Todos se perguntam sobre o aperto no peito. E a resposta, é novamente por uma última vez,
se abraçarem e imaginarem-se como crianças"

Invisível Dádiva

- Um café com leite, por favor! - Descanso a visão do óculos escuro e retiro o jornal do saco azul

A atendente com pressa, derrama um pouco do líquido quente. Pede desculpa sem me olhar e vai servir um outro cliente.
Nesse período, principalmente da manhã, falsifico bem minhas emoções. O pior período já passou. Levantar, sair do berço, é um medo que o deduzo de um bebê sendo afastado de sua mãe.
Tenho medo todo tempo.
Folheio o jornal. Sinto-me atraído pelas notícias, mesmo que, às vezes os pensamentos percorrem por outros terrenos que desconheço e me induzem na andança.

- Deseja algo mais? - Pergunta-me sem me olhar
- Um pão na chapa - Ríspido dessa vez

Sua má educação me força ser um voluptuoso. Observo sua bunda e a desejo. Sua calça jeans está apertada a ponto de esmagar sua bexiga. Retorno a leitura. Se ela me atender novamente irei prolongar meus pensamentos. É um revide espetacular. Minha moral versus sua idoneidade.
Ela já marca o valor do café e do pão num papelzinho amassado. No mesmo instante, peço um outro café. Observo que ela reclama do horário, deveria estar em casa. Sua cama.

-Ela que pediu, não é culpa minha! - Imagino - Até onde ela quer ir com isso?

Para evitar, levanto e vou até o caixa. Estou satisfeito. A infelicidade já tenta me surpreender e o sol empurra as nuvens querendo me demonstrar que já é tarde. Seu idiota amarelo, sei onde me encontro.

As calçadas vazias. Apenas alguns carros rondando sem sentindo. O mercado aberto. Uma minoria saindo com sacolas para seu almoço de domingo, o momento da reunião e suas desavenças familiares. Neste momento, já desgastado e insólito, precisava novamente de meu berço. Poderia agora, estar nos seios de minha mãe.
Estou indo para casa terminar a leitura e escutar um pouco de música.
Após sair da avenida, ouço um barulho de carro batendo. Volto o olhar e ouço gritos. Corro um pouco para amenizar minha curiosidade. Vejo frutas, verduras, bebidas, sangue...
Deus e sua dádiva de preencher minha vida de sua beleza mórbida.
O sol se enconde entre as nuvens. Sua vergonha é evidente. Chove um pouco molhando meu jornal e a água leva também minha vivência. O período pior já passou antecipei aqui.
Talvez essa senhora, pudesse ter ficado um pouco mais na cama. Sua meia demorasse um pouco mais para esquentar seus pés. A água demorasse um pouco mais para atingir sua fervura. A fruta que ela pegou estivesse um pouco estragada e que ela percebesse já próximo do caixa e retornasse... estou entrando num caminho desconhecido!

Percorro um breve caminho até o portão onde moro. A leitura ficará para mais tarde. Antes de o abrir, tento descarregar minha emoção.
Já é tarde agora percebo. Já é tarde para qualquer coisa.

"Tudo é tudo"

"Resta apenas os pés. Tão sujo e impotente
Resta apenas a semente de um beijo e de um corpo descartável
Os dedos agora são gélidos, e ouvir apenas os sussurros no escuro...
Meu sorriso é sarcástico, mesmo dentro do baú
Resta apenas uma música para um funeral funesto
Resta apenas uma amizade, ela que juntou minhas mãos
Resta apenas um pouco de flores, para que se tenha assim, o início do esquecimento
Ela chora, Brilhante, brilhante, diz
Meu sorriso...
Um pouco de lágrima e uma sugestão sobre a terra que ficará sobre meu peito..."


Uma pitada de canela para uma explosão

Já se passaram três ou quatro dias. Um suco gelado foi de que me alimentei e de alguns pãezinhos com manteiga. Sinto-me bem fisicamente, não lembro de muita coisa. Será um sintoma da falta de sol ou de uma boa alimentação essa impressão? Algumas linhas escritas aqui, é o suficiente?
Preciso-me altear, calçar o chinelo, tomar um banho, pentear os cabelos e principalmente, me recordar qual a data em que estou agora. Há uma certa falta de exatidão em meus pensamentos. "Droga", estou acordado e com a mão esfregando minha nuca. O quarto opaco. Mas, não estou mais lá. Onde me encontro agora? Se for em pensamento, precisamente agora, estou tentando ficar bêbado com algum amigo e minha família me aguarda para o jantar. Minha irmã segura uma linda criança, ao qual nasceu no mesmo dia que eu e... não serei preciso pois, as coisas realistas me torturam. E se for na realidade? "Droga", estou acordado e com a mão esfregando minha nuca. O quarto opaco...
Agora olho o calendário, dia 26 de maio, 2009. Puxa! Ninguém ainda explodiu uma bomba atômica?
Como simples desejos não se realizam tão fácil, procurei levantar e pôr em ordem minha vida, pela acho eu... milionésima vez.
Após minha idéia otimista se esvaecer (durou 5 segundos), pensei: "Ferverei o leite, colocarei duas colheres de café, um pouco de canela em pó, achocolatado..."

... Droga", estou acordado e com a mão esfregando minha nuca. O quarto opaco...

Adeus?

"Me prove seu amor de alguma forma
Não deixe que lhe penetre sem antes dizer: TE AMO!
Sim. Pode dizer no final do orgasmo
Na verdade, fique em silêncio
Me prove apenas, sem bater na porta antes de sair
Com seu silêncio...com seu maldito olhar...com seu suor
Corra após a tentativa de esmagar sua cabeça com meu desespero
Me desculpe...sempre peço desculpas
E não me desculpe, como sempre faz"

Eu? Você?

A CRIANÇA QUE SOU

Como minhas idéias em frente ao computador não vinham. Parei e pensei: " Irei escrever sobre a primeira imagem que sobressaltar...". O raciocínio não foi finalizado e me transpôs em imagens de mutilações de animais, humanos, assassinatos, coisas explodindo, casas desmoronando...
"Algo está errado comigo", pensei.
Mesmo depois desssas imagens me pertubarem, pensei se valeria à pena omitir no precioso esconderijo de meus pensamentos que é o Escadas Horizontais, os meus "puros" desejos.
Estou sendo justo ao não confirmar a verdade imprevisível que jaz em minha alma e que implora por nascer em momentos de águas calmas? Oras. Ainda procurei as fotos, e as mutilações são tão... tão desumanas que deixei o suco de lado e fechei meus olhos para conter a náusea.
Resolvi não expor. Expor as fotos sobre essas torturas. Mas, a idéia de colocar uma imagem não me saiu tão fácil. E refleti: "Como realmente me sinto a todo momento? Do que mais, sinto inveja por saber que este passado, poderia ter um maior espaço em minhas memórias? E que futuro? Para mim é o suficiente, apenas o amanhã. O desprezo, a ponto de odiar as horas, toda passagem de tempo.
O que desejo ser, o que sou agora?"
Não é uma lamentação. Mas percebi, que não tenho anseios.
Eis a imagem:




Este pequeno texto vai dedicado, ao ser todo escrito com pensamentos da falta que faz, minha família.

Traum Bendict
"Teimando com certa esperança até queimar minha alma.
Suavizava minha dor, apenas com suspiros prolongados.
A luz ao fundo pálida, e ao canto, pendurado em minha porta, meu jaleco.
Minha cabeça parecia-me respirar, os ossos flexionavam e os ouvidos zumbiam.
O frio me pressionava para baixo, meu corpo procura se acomodar com movimentos autónomos.
A esperança se extinguia e o calor caminhava no mesmo beco.
Com o jaleco agora em meus ombros e a luz já dissipada.
Caminhava na madrugada, na escuridão brilhante das estrelas e da névoa.
Meus pés molhados pela relva, procurava o pôr.
Na ponta do abismo, do meu abismo...expeli minha alma"

Traum Bendict

Cozinha e torradas

Me digam algo vocês duas. Dormir? Não vá. Frio? Acho que estou indisposto e meus olhos, acho que estão avermelhados.
Mais um café talvez ou uma dose de um sonho que já tive e me faça adormecer por algumas semanas. Mais um café para sentir minhas pernas que agora estão geladas. Mais um café para que alguém como você, você mesmo que olha o que escrevo. Mais um café para tirar a loucura ou insanidade que sempre me persegue e que se insinua. Mais um café e talvez você não me negue um beijo. Mas, para isso não precisa-se de um café. Do que se precisa? Algum sentimento?
Lisonja. Respiro.
Lembrarei de como você acorda. Não apenas. Lisonja. Respiro pela última vez.
Boa noite T`s. Um prazer. Uma noite. Obrigado.