ELE

Deitado, olhando para as mãos sujas entre dejetos, vômitos... A leve chuva que caía era como um escárnio irônico, mas, que o fazia desistir de não refletir. Todos aqueles sentimentos eram tão redundantes. Toda a percepção... incorrigível! A aparente sensação de existir e crer que esta realidade pode ser concretamente real e, delineada, e, pior, que toda a abstração das coisas são as suas "criações".

Ele "criou" o homem que ao lado dos urubus comia a carniça de um homem, ao qual, o outro, era ELE, sendo a sua "criação".

- A leve chuva cai como um escárnio!

Saboreava as palavras na incumbência de talvez morder a sua língua. Sentia-se tão esquelético e asqueroso, que regurgitava apenas por lembrar-se, lembrar-se que "existia". Um piano distante ressoava as notas mais doces que pudera ouvir e de súbito a chuva cessou. O visível descomedimento vindo dele havia cessado? As feições tortas eram de naturalidade sinuosas, cheias de calamidade, malquerença e cheias de amor. O ódio estava asfixiando-o de uma forma rompante. Sombras vagueavam entorno do seu cadáver fétido em meio aos dejetos, vômitos...

Quem pudera lhe dizer, que ELE era sua "criação" mais repugnante de vários entes em capítulos esbranquiçados?

 Ao conceber o "seu mundo", ele sabia que estava simplesmente sozinho. Resolveu sem aclarar aquele vazio, deitar-se desistido e observar como a chuva o banhava de escárnio em meio as objeções. Ele ambicionava por canções doces.

Ambicionava em não existir!

Cidadela

Ó cidade, onde os corvos grasnam insofridos
Onde a mácula desperta nas esquinas

Ó cidade, onde não verão seus livros envelhecerem
Onde o estio dilacera os calcanhares

Ó cidade, que na luz pendenga e assassinam seus anciãos
Onde formigam as mãos da burguesia

Ó cidade, do germe, do pus, dos advogados
Dos espíritos em decomposição

Ó cidade, onde embevece de sanha
Onde regorzijam os autômatos

Ó cidade, de céus negros e vermelhos
Onde não há vergonha em morrer nas calçadas



Arritmia

Invariáveis...

Preso numa poça, onde a chuva rasteja sorrateira
Pingos de nuvens ácidas de rancor - cambaleiam ao vento
Pisam no vulgo eu, de cima, olhos de aversão

Quadros em quadros, fotogramas nus
Quando o cheiro despertava-me...ego sã
O realismo insuficiente para mostrar a realidade

Rastejava sorrateira, mas invariável

Noites...

Na silenciosa noite, onde criou-se a parábola do mal
Peregrina a brisa espessa e o cigarro finda ao meu andar...
Nas esquinas vazias, onde o medo contínuo repulsa
De esguelha...

Os véus brancos flutuam em socorros estridentes
A vermelhidão simbólica da morte os percorrem...
No amanhecer de eras douradas, agora lacrimejadas
Das janelas, as surdinas línguas, não mais...

No desejo supérfluo de viver - sem os nossos desejos
Cabe a imatura vontade, de cortinas emaranhadas...
No soar tenebroso, Quimera a ceifar
Decerto tilintam...para ouvidos surdos!

Pueril

Ao sair do trabalho,fui a um bar. Sentei-me numa cadeira frouxa e pedi o cardápio. Após, com as mãos no rosto e entre as frestas dos meus dedos, medi o lugar. Som ruim; lacaios desajustados; uma lésbica contando seu segredo ínfimo,"sua mão penetrou em mim", ouvi entre risinhos da Madre Teresa; um anão mamando numa velha; um homem com um cu na testa...

Voltei toda atenção para o papel higiênico que me deram para escolher minha bebida. Passando o rolo com aquelas letras ininteligíveis, e ainda com a bosta "madura" escorrendo em meus dedos, um dos garçons, este que, me fitou ao entrar, vinha em minha direção.

- Vejo que você procura o especial da casa! - Com uma voz melosa e salivante

Acenei que sim.

Recebo um outro cardápio, e ele continua ao meu lado com algumas caixas estendidas em sua bandeja.

- Esta! - Lhe digo

Com um véu vermelho em meus olhos, escolhi o tiro na nuca!

Minha Noite

Em minha sonolência e reflexos de sono, pesam meus olhos para entrar na escuridão, mas se curvam com a força da pequena chama de vela distante ao candelabro. Tento dormir na penumbra, onde mantenho-me em forças de combater meus medos.
Me satisfaço com pequenas doses de doer o estômago, e puxar minhas rugas envelhecendo-me em trinta anos. Meu relógio "esticou os pés" às três horas. Sua inutilidade faz com que me retenha em meu despertar indesejado...

Paro aqui, agora!

Não consigo mais pensar...acho que dormi!

Simples curiosidade

Este é o meu leito. Só resmungo, e mexo minhas pálpebras. Sinto a maior dor de todas e estou orgulhoso disto, pois fui escolhido simplesmente para ser o que sou, para detestar o que não sou e para esmurrar minhas párias insignificantes. Acreditem, será difícil sei, mas sou a melhor pessoa com a qual poderias partilhar uma amizade. Mas entendam, sou uma pessoa difícil, aparento fragilidade agora em meus pensamentos, e rogo para que o cuspi não caia em minha face.
E já rezam para os meus males, como se estivesse algum! Sou uma pessoa santa, independente que tenha apenas forças de respirar ao suor. Será que não entendem? Será que não percebem agora? Será que só serei notado, se neste exato momento minhas forças ressurgirem e sorrindo para esta laia, lhes seja cordial? Eles não entendem que minha morte neste leito é porque eu quero!

Simplesmente ao meu cansaço!

Posso reconhecer a voz do meu filho e minha filha, minha esposa, meus vizinhos, e o jubilar das velhas rezadeiras imbecis que imaginam estarem me livrando de alguma maldição. Se pudesse...

-Cof,cof,cof....hummm....hummmm....senhorita majestade deusa luxúria division klaus bergman jesus fotos clicks mald...

...tomaria o último gole de vinho e precisaria de apenas uma azeitona para salivar um pouco do meu prazer.

Tenho aversão as questões simplórias e nada sutis sobre mim ao meu redor. Poderia aquela embrenhar-se sobre meu pênis mucho e querer algo mais talvez...ela com seu rosário deixou de me espantar com tamanha falsidade e hipocrisia religiosa, onde apenas o que deseja é algo quente entre as pernas. Seu símbolo cheira a sua virilha! Como um homem assim, em meu estado, pode não conter-se?

Estou morrendo por simples curiosidade!

Preciso imaginar, divagar sobre questionamentos já repetitivos, incoerentes, nada práticos e completamente sugestivos de minha fantasia rugosa teórica... me libertem, me libertem, me libertem (gritos mudos dentro de mim).

Caí em muitas armadilhas, minha maior foi acreditar na sinceridade humana, na fraternidade familiar e nas amizades. Quando me perguntaram: " Quais as pessoas que você mais odeia?". Tinha a juventude ainda no rosto, não respondi, baixei a cabeça e pensei num relance, que essas criaturas estavam dentro de minha própria família. Mas relevei por ainda perceber os seus motivos. "E o pecado, se existe, enquadra-se aí", era minha frase de efeito dentro de mim.

Esperem...acho que é agora! Peçam licença, por favor!