Vômitos e perfume nas manhãs

Ela caminhava logo cedo, antes até, de qualquer som ou luz vinda do horizonte com seu contraste e composição que embeleza qualquer cenário decadente, frígido.
Dela tenho as observações precárias de uma boemia buscada por mim, como escritor, músico, de um parvo. Talvez tenha que me despedir dela ou até vê-la cortar seus pulsos, e ajudá-la levantar seus braços, lhe acalmar caso queira renunciar da ideia. Dizer, NÃO! Sorrir para ela.
Ela caminhava logo cedo, antes até, de Deus dizer bom dia para os pássaros, soltá-los.
Senhora! Não acorde, vamos?
Ela podia escrever até horas da noite, à luz de velas. Um candelabro pende, suspenso, cortando a sombra com seu fulgor.
Sinto muito senhora, chore por sua perda, se mate por ela. Eu faria o mesmo. E antes, antes do nascer de algo, me jogaria numa lembrança que nunca tive.
Mas sou um observador incrédulo, e tenho como a verdade nossas incertezas.
Você como uma velha, me inspirou a desistir sempre. Fomos companheiros através de um vácuo.
Lhe vi entre vômitos, ajudei a suspender seu rosto. Com meus dedos, me lambuzei com o que veio de você. Tinha gosto de algo velho. Velho como seus papéis, escritos com pitorescos deboches. Se você me pedisse, lhe faria uma sopa com os restos de seus escritos.
Ela caminhava logo cedo, antes até, de sua vida existir.
Ainda sinto seu perfume nas manhãs. Em todas as manhãs. Penso em levantar, mas pesa o mínimo desejo de lhe ver.
Saiba que tenho as melhores lembranças vindo de sua velhice, do seu desamor, sua indiferença.
Ainda hoje irei sujar-se de vômito, por você.