Um Jovem quando era Jovem...

Sobre o que posso me atentar mais, há não ser pela elocução que saem dos meus lábios?
Havia me desprendido dos versos sonoros e me entrelaço agora em escritas.
Abandonado estou. Não me ouço mais.
Se tenho que me dizer algo, anoto, leio e o jogo na lixeira do banheiro misturado com minhas fezes.
Assim são... minhas palavras.
E quando as regozijo, em minha plenitude viés, o hálito é de um dente apodrecido, escarnecido, frouxo.
Não encaro. Não os falo. Sem movimentos, apenas círculos e mais círculos, num redemoinho de sodomias.
O amor quando o vi, lhe gritei: "Sua velha asquerosa". Foi o último balbuciar, agora escrevo, não me ouvi, jamais.
Ela ri e joga no meu pensamento: "Não me terás, não me terás" e canta, " Um jovem quando era jovem, sentia-se capaz de amar. Amou após envelhecer, a morte que lhe espreitva".
Hoje jamais falar. Apenas sentir o que me é desconhecido. Partir. Preciso partir, jamais falar.

"Preciso me calar urgentemente e morrer com diligência."
Traum Bendict

Um Pedrisco

"Quando chegar lá, irei comprar um diário de verdade.
E irei relatar, apenas, sobre minha verdadeira vida"
Traum Bendict

Retirado de um inscrito, datado de 3 de junho de 2009.








Sensação Iminente

"Irei parar e sentar
Mas, penso que irei desintegrar"

Traum Bendict


Recôndito

As crianças corriam, esquecidas de seu tempo há pouco. Riam com os olhos cerrados, com a cabeça prostrada e os braços balaceando.
Seus mundos não exigiam dívida, seus sonhos eram a visão clara de seus sorrisos, e seus sorrisos a dádiva do prazer de então viver.
Até que houve a tragédia de crescer. E crescer representa se perder, tatear, vendar-se...
Rostos inexpressivos e sentimentos recônditos.
A criança agora lê Albert Camus e se encontra desejável. Prepara o amanhã, o representando na fotografia de uma estação invernal. Suas roupas pesadas e seu cachecol, deixa-o mais bonito.
Ele apenas se prepara. Prepara-se para partir e olhar para trás, olhar a cada passo e a cada passo tentar ao menos, expulsar suas lágrimas.
O homem deseja agora fechar o livro e iniciar um novo conto.
Um conto de uma criança, que esquecia seu tempo de agora há pouco.



Estrangeiro

"Estou numa fronteira
Morto!
Sentindo-me vivo"

Traum Bendict

Confraria de Idiotas

"Não sobrará um escárnio
Restará um rosto, um sorriso transluzente
Dançarão com a felicidade do amanhã

Com seus sentimentos volúveis
Atirarei num porco funesto
Colocarei na mesa dos seus
Uma confraria de idiotas, me ridicularizam

O rosto que sobrará é apenas o meu
Transluzente por odiar
E a poesia sobressaltará
Pois me vigio de tua repugnância"
Traum Bendict

Vinho regado à chuva

Pensei em sair, tomar um pouco de vinho, dançar, conversar...
Não tive outra coisa em mente, há um bom tempo. Depois desisti e retornou como agora.
Quem sabe em um parque, onde possa me deitar e passar uma longa noite de ressaca.
Resolvi então, colocar meu sofá velho no corredor fora de casa e sentar-se até adormecer.




Se...

- Mamãe, quero acordar - A menina chorava

Ela de alguma forma sentia seu corpo em sua cama. O sonho sendo neste momento mais forte, o choro a distância, a voz ecoando. A luz era a sua sombra, e era ela que abria o caminho por entre os rugidos e mãos que rasgavam seu vestido amarelo que havia ganho em seu aniversário.
Numa mudança repentina - assim se dá os sonhos - na estrada agora reta e estreita, a menina seguia em sussurros. Seus pulmões se encontravam límpidos, algo que ela notou ao respirar conscientemente naquele momento. Seu vestido, não se podia dizer o mesmo. Ela percorreu toda a estrada, e desiludida de talvez não acordar e de não tomar o café com seus pais, ela sentou-se...

- Filha, filha...acorde - Ela como que, tomada de um susto, abraça sua mãe
- O que houve? - A mãe pergunta

A filha conta seu pequeno e breve pesadelo à mesa do café da manhã. Sua mãe, seu pai e seu irmão, ouvem atentos e sem piscarem, toda narrativa surreal.
Os pais como sempre, advertem a filha para não tomar chocolate quente antes de dormir, o que talvez, supõem, havia sido a causa.
Antes de sair da mesa, sua visão se destorce. Seus pais, percebendo seu desespero, continuam estáticos, sem nenhum movimento de empatia com seu problema. Ela percebe que ainda está deitada. E a sombra novamente, ilustra o caminho ao qual ela deve seguir. Agora, não mais chorava. Apenas se perguntava: "Será que isso, é realmente o meu sonho?"

"Não chore, não, minha mãe
que enterrado hei-de ter vida"
Ana Akhmátova


Paul Delvaux

Reincidentes

Desisti de muita coisa. Não compreendo até, os meios que me levaram ou os meios que me coibiram em certos casos.
Sair de uma sala, se entreter com imagens em que não as observo, dizer não, não ir, dizer sim com um não, fechar os olhos num amor em que não existe, tocar, beijar comprimindo os lábios para dentro, sorrir falsamente e desviar o olhar simplesmente para baixo... me adverti!
O quê de valor adquiri, há não ser alguns móveis que irei deixar para trás? Imaginar hoje, que após entrar em meu balão, lembrarei apenas com saudades de como à luz do meu abaju brilhava numa tonalidade extremamente hipnótica no meu quarto azul, no canto especialmente dotado e pesquisado para ele. Percebo que desisti de muitas coisas e que não me arrependo, apenas as cito, às vezes com rancor, outras vezes por com a desistência, ter podido respirar melhor e evitar os olhares moribundos.
Tentei ainda fixar-me, se entregar não indo, mas, iria assim desistir.
Talvez pudesse acalentar a palavra desisto, com escolha. Mas, escolha é uma opção, desistir é não continuar. Então, sem amenizações. Não creio que cometo pecados.

Metas:

"Farei o possível para evitar qualquer cadáver (principalmente os vivos). Desistirei a todo momento. Fracassarei a todo momento. Me asbterei por odiar réplicas. Errarei por desejar errar, machucarei outrem por ser um humano."

Estou apenas cansado, talvez.
Diga tudo bem e tudo simplesmente ficará. Se estique e chore com seu torpor.
O que Eles querem? Determinar o que você quer, pois assim o é. Seu desejo não importa pois, tem que satisfazer o D`eles. O que representa essas práticas?
A quantidade de "amigos" cremados, é o suficiente para entupir o vaso sanitário. Mas preferi amontoá-los no chão e observar um cachorro fazer suas necessidades e ir embora aliviado.



Respiro Profundo

E assim, René Magritte, dá sentindo ao amor.



"No meu aniversário. Em "meu" dia. Deseja-me apenas, antes de sair, um adeus
Beija-me friamente. Mais frio ainda, do que esta manhã de três de junho
Na noite, aguardamos o silêncio. O relógio badala. Nos abraçamos
Parabéns, ela diz.
Conto-lhe novamente um pouco do meu passado. Não se importa.
Não sou, não sou ela...
A cama antes de casal, diminui. É uma linha agora
Sentados, nós dois, aguardamos o sinal, uma nuance
Vamos dormir?
Esclareço em auxilío ao meu desejo que, estou ficando velho
Vamor dormir?
Antes um cigarro, um banho, um café, um sal na pele
E respirar profundamente e aguardar que à noite, não se curve perante o dia"

Traum Bendict




"Hoje as crianças cresceram. Não foi durante muito tempo. Durou um piscar.
Acordaram e sentiram um aperto no peito. A dor de crescer instantâneamente.
Com o crescer, a preocupação passageira de uma proximidade maior de um fim admirável.
Todos eles se perguntam. Olham atráves apenas da distância. Algo desconhecido os ligam.
Um adorno cobre suas faces. Passear sorrindo e transluzir suas inocências, não serão mais capazes.
Todos se perguntam sobre o aperto no peito. E a resposta, é novamente por uma última vez,
se abraçarem e imaginarem-se como crianças"