" Sobre o fim, a inveja e a perfeição"

Traum Bendict



Anônimo


- Você que é o anônimo? - Sorri falsamente
- Talvez um bom dia, após a câmara escura.

Batidas noutra sala. Percussões. Tum,bum,tum,bum...

- Tussa. Calma, assim, não entre em pânico, eles irão pagar pelos danos. São poucas horas, aguente firme - Metia medo sua incógnita
- Foda-se. Ouvi o que falaram na câmara. Sou eu, não?

Séria, retorna para à porta. Tira uma garrafinha da bolsa e bebe.

- Foi o que me disseram sobre você. Não arriscaria, não é? Se dar, mentir, falar com alguém sobre...aquilo qualquer que deveria não, sim, uma sinopse sobre o refletor, o seu guião que não ficará finalizado e o qual não existe e suponho que exista em algum lugar, nos dedos que você arrancou e que você após, comeu seu braço, aliás, que toco horrível que ficou. O que você quer de mim?
- Não sei. Não busquei nada, não vivi nada, não fiz nada além disto. Quem colocou a janela atrás de você?
- Não seja tolo. Não é a janela, é a câmara.
- Ahhhh...será que poderia me ajudar, enquanto jogo minha cara na água? - Me arrasto
- Tome um gole mas, não encoste seus dentes em minha mão. Seus...caros lhe esperam lá - Novamente na porta.
- Mas...minhas mãos, não posso. Você trouxe?
- Sim. Como sabes o que é? - Ela põe em cima da mesa, algo.
- Foram eles, não? Pois é, vi alguém bisbilhotando minha porta. Acreditavam que eu pudesse estar ali. Dê.
- Adieu.

Não conseguia enxergar. Sabia que estava lá. Os tum,bum,tum,tum,bum... continuavam.
Riam escondidos ou propositadamente, falavam, comentavam e ouvia as marteladas do meu suposto pecado sendo pregado na parede. Era como se estivesse com um fone nos ouvidos.
E por instantes silenciou e permaneci na câmara, sentindo fios me enrolarem, me asfixiando, com gotas de veneno, que antes do seu efeito ardiam.
A câmara acústica, escura, havia engolido minhas entranhas. O cheiro podre não chegava na outra sala onde, me observavam.
Cabia a mim decidir, escapar, sair pelas frestas. Ao lembrar que, tudo que era sólido se evapora no ar, tudo que era sagrado é profanado, suguei a escuridão.

" Suma. E diga à todos que foi tudo minha culpa.
O melhor que pode fazer é rasgar seu enxoval e arranhar seu rosto.
Procuro apenas meu útero, para lhe provocar um aborto."
" Entre as folhagens e em meio à relva. A morte espreita à vida"
"Podemos explorar o pecado. Sentir-se abismado com ratos que desejam subir pelos canos de seu banheiro. Cortar seu cabelo com uma faca não afiada. Se esforçar em não levantar e mesmo assim, levantar. Podemos explorar a fé!
Até mesmo a fé. Podemos enganar Deus ou lhe machucar? Dêem, sim, um alfinete!
Deverei algum dia, talvez num domingo ou numa segunda. Acordar cedo, sentindo um pouco de felicidade, o mínimo possível. Desejarei que todos estejam dormindo, não me vejam sair e que eu escape. Feliz, o mínimo possível!
Rezarei, terei paciência, irei me preparar. Mas, hoje tenho medo. Tenho medo que me vejam chorando aos berros, e que tais ecos se espalhem por toda sala sagrada. Dirão:

- Um pecador, um pecador. Ele está salvo, perdoado, o filho chora, chora por que seu pai agora lhe estar abençoando.

Não, não dirão isso. São católicos. São quietos. Somos a igreja. Sem estardalhaços. As igrejas dos negros que faziam isso antes. Protestarei.
Os cânticos com seus orgãos que vibram a espinha dorsal e instiga nosso sistema nervoso me fará lacrimejar.

- Eu peço perdão senhor. Estou tão longe de casa, de minha família, de ti, de ti senhor. Não sei o que lhe dizer. Dizem que lês pensamentos, que não precisamos bocejar, pois escutas nosso coração, nosso interior, a alma...se a tenho! Não posso ser Jó. Eu peço perdão senhor. - Eu direi

Sairei antes do pão e sangue de cristo. Lembro-me das velhinhas sussurando. Das imagens que me possuíam de uma fé desconhecida, de revolta, por ver o menino Jesus, sua imagem, sangrando deitado e dizendo: "Eles não sabem o que fazem."
Só irei na verdade, após as badaladas, após todos darem as mãos e...a paz de Cristo.
Acreditem, não é zombaria. É a religião em que fui criado. Em que fui educado. Onde aprendi há admirar minha vida, as pessoas, e que agora como um velho rabugento com ossos doentios e próximo da morte, clama perdão!

Talvez eu vá numa segunda. Na oração das almas. Talvez lá encontre a minha, e lhe direi que não mudei, mas que reconheço o meu pecado."


" A já alma expurgada, quieta, solteira de emoções
Sentar-se no centro da calamidade
O ouvir não lhe expõe medo, pois a imagem, o enquadramento ocular se esvai
O escritor se entedia da vida, pois a mesma não lhe conferiu confiança
Aos dezesseis, já podemos exceptuar a religião
A religião, no triplo da idade que possuímos, vêem se encarregar da dívida
O papel não precisa do sangue, a sinceridade embranquece as palavras
As palavras em tons, em epifanias!"

Traum Bendict



" Luzes para um ócio
A janela, numa extremidade sem nexo
Pessoas desconexas que pulam de janelas pintadas na parede
Sem calor, sem frio, apenas um banho
Apaguem os faróis para a lama ser servida
Atendam o chamado divino
É o diabo...
A roupa está rasgada, me deixem nu"

Traum, traum,traum....
Traum,traum,traum...

Percebi que estou bêbado da fome...
Estou com sono, porque apenas durmo...
Três dias ao meu lado. Talvez, suponho que, já estivesse cansada de meu cheiro, minha voz, de minha barba, meu café, a água gelada do chuveiro...
Compreendo esta sensação, lhe atribuo até mais, uma sinceridade em seu sentido expresso e até mesmo comovente em certos pontos. Não vejo mais dramaticidade. Não cansaria nunca, de lhe ver fumando em minha sala seus cigarros fedorentos que me deixam cansado...vale o esforço pela cena, seu ar cinematográfico, a suavidade do movimento. O cigarro vai a boca. Puxa a fumaça. Sopra. Vai até o cinzeiro novamente. Que hipnótico!
O maldito olhar sem severidade, os sinos que tocam com o movimento de seus longos cabelos, a mulher cativante e esquecida de antigos pensamentos, sua admiração, seu contorcionismo que adere com seu sorriso por bobagens surreais e de matérias sem importância.

- Como você está? - Ela fala já entrando sem permissão
- Serei discreto. Não falarei, nem ruminarei pensamentos. A bolha está aberta - Em três dias apenas lhe falei isto.

As mulheres se tornam felizes quando convivem no silêncio. Foi o que imaginei. Tirei a prova dos três. Não precisam de orgasmos e sim de...silêncio, nada de clímax, sémen. Estou enganado senhoras e senhores? Não precisa dormir numa pocilga para conhecer os porcos.
Começo a desforra? Desculpem. Não se pode falar com nenhum ser, que possua o coração amargurado. Já falei isto antes? Então me calarei novamente. Não por três dias, e sim por três décadas, três séculos...
Mas...três dias encheram minha mente de imagens, de coisas que serão lembranças. De quê, deitado, sozinho em meu quarto criei tal mulher, tal encantamento que agora não é mais secreto.
Ela me presenteou com seu lápis de olho preto, que usarei em alguma noite qualquer. Bem, talvez o lápis sempre tenha sido meu.

"Em algum beco ou corredor estreito, minhas pernas se tocam. Meu estômago embrulhado, minha vista enevoada, meus ombros espremem minha espinha e toco em arames farpados.
A imagem do quadro de Van Gogh, Noite Estrelada Sobre o Ródano me alivia. E meu coração neste momento é apunhalado por meu esqueleto. O animal preso em sua armadilha proposital.
Secreto...é o beco. O corredor da morte. A alma que, não mais geme e sim, sorri com alguma esperança perdida.
Estou bem e preciso cuidar de cada corte de cada ferida.
Pensando bem, deixarei apenas meu coração eternamente sangrando"

Foto - Gabi