Uma chuva miúda e uma caixa secreta

Sangue corre atráves do chuveiro. Me molha, ao mesmo tempo que seca e cola em minha pele.
Fiquei corado, eis a simples observação que tenho, quando acontece um "desastre".
Desastre, pois não sei o que se encontrava na caixa de água, da casa em que agora estou, da casa que à pouco irei partir e que me entedia.
A toalha que é a única visita para expor meu corpo nu, me acolhe e me esquenta. E atráves dela, o vermelho com seu odor de vida extinta, é retirado do meu corpo já também extinto, seco, tísico e vácuo.
O sangue que escorreu em mim, era de um feto. Talvez de um animal, talvez o meu, talvez do meu filho, talvez o da minha neta, talvez o feto de Deus. Foi algum tipo de batismo?
É claro que, é apenas uma história que inventei, com um significado escondido em entrelinhas que me veio com a chuva miúda que caia enquanto tomava um banho quente e sem sensações.
Era apenas para dizer: "Já estou lá, onde talvez não quisesse estar, que me sentirei sempre aqui, pensando não estar..." Eis o que sou, um estandarte de lamentações.
Queria arrumar, ser um mágico com uma cartola infinita que tirasse coisas finitas e inesquecíveis. Que eu tivesse uma caixa, mas receberei um dia uma caixa, não?
Mas quero antes, vômitar todo meu sangue, gota por gota. Para saber se existe algo, além disso.

2 comentários:

Wenndell Amaral disse...

Cara, gosto das palavras que você escolhe.

Ranieri Brandão disse...

O mais interessante de tudo, meu caro, é como vc consegue encontrar nas coisas (o sangue, a água) outras funções. O sangue deixar vc corado me lembrou, visualmente, puxando por uma imagem, aqueles beliscões q a Scarlet O'Hara dá no próprio rosto, pra aparentar saúde. Mas, claro, lembrança essa de outro contexto. O sangue, aqui, é mais outra imagem. Belíssimo blog, textos mais ainda. Quisera eu, escrever assim e ter, também, um template tão bem feito como este. Abraço!