Listras de um olhar sem afago

Caminhava por minha cidade, por ruas estreitas e escuras. O que ouvi numa caminhada e vi, poderia me despertar para uma sobriedade desumana, e necessária para expectorar qualquer anseio. Procurei, procurei algo, olhando para o céu com grandes estrelas já mortas rasgando o negrume, e deixando listras de sua existência. E quanto choro será necessário para que Deus nos ouça? E Ele diz: E quanto choro será necessário para que Eu, exista?
É plangente.

Com as janelas abertas e em grandes portas, as pessoas comiam, se beijavam, riam, liam...enquanto uma garota era esfaquiada tantas e tantas vezes. Peguei o meu lenço e enxuguei o rosto, acreditando que meu gesto limpasse a vergonha e o meu desespero. Dei as costas e entrei numa casa da verdade. Sentados, os homens que não mentiam, falavam sem compreensão. Esperavam a comida que nunca chegava, gesticulavam suas verdades. Outras pessoas no quarto dos mudos, murmuravam batendo na parede, onde lá, escreviam e rabiscavam seus retratos. Corri, segurando minha gravata para não ser puxado. Saltei o corpo da garota, e antes de seguir, lhe pedi desculpas, por ser o que sou. Ela olhava para as estrelas que caíam...mortas!

Estava extenuado. Queria deitar, tirar os sapatos. Antes, esquentei o café amargo como minha noite. Cochilei alí mesmo. Acordei em mais uma noite, em que todas as estrelas já haviam caído, e a mulher no seu doloroso destino, ainda gemia. Apenas passei.


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