O Moço Encantado


Um belo moço. Ele ergue a cabeça com uma fisionomia que me é conhecida. Mas, distante como sempre ando, evitei qualquer pensamento em tal questão. Aliás, não me importava!

- Acho que me machuquei - se limpa - talvez tenha quebrado o pescoço.
- Aceita uma bebida? - tiro minha garrafinha com uma boa vodca - beba antes que sua cabeça caia.
- Não ouviria um conselho melhor!
- Eu lhe conheço pois, sonhei com você noite passada. Segunda. Era o quarto dia de sua morte. Fui eu mesmo na igreja e lhe dei seu nome. Acho que não precisamos nos importar mais. Eu estou aqui por você ou você por mim? - Ele sorri com a pergunta.
- A bebida está boa - me devolve - não sei, mas, essa brancura me irrita.
- Dizem que este lugar é agradável. Mas, não acredito. - Digo-lhe que não. Mentira.
- Cacete. Era o que me faltava. - Ele desabafa.

Em volta se vai, se vai...se dissipam a brancura e chuvisca. Não limpo o rosto. Agora só!
Me pergunto se aquele moço era meu amigo. Não me importo. E talvez tenha sido ele, que colocou meu nome no altar e rezaram um pai nosso para mim e após, me esqueceram em lembranças que sempre foram finitas. Não me importo. Apenas queria beber com alguém. E foi bom encontrar alguém no meio de tantas coisas, terrivelmente belas!

Li recentemente, uma passagem rápida, um trecho que não dei nenhuma importância. Acho que era de Guimarães Rosa, em que dizia: "Não morremos, apenas ficamos encantados".
Durma bem, pequenino príncipe!

De Traum Bendict, para Wilton. Uma lembrança para sempre infinita.

Um comentário:

Wenndell Amaral disse...

Bons sonhos em seu descanso. Digo isso para você, meu amigo longínquo e também para nosso comum conhecido, Wilton.