Três da manhã


Minha peregrinação havia iniciado. Tinha idéia de quanto tempo haveria de me rastejar e tentar suavizar com lembranças, o tal sol avermelhado, que o odiava. Talvez entendesse aliás, que não havia motivos. Tudo talvez, fosse até, um delírio, imagens oníricas, e semelhança com algum personagem que havia lido ou assistido. Lembro-me que deixei alguém para trás, e que um vermelho com odor que reconhecia, grudava em minha mão. A pedra. Que tipo de lápide seria?
Estava escrito algo? Testemunhei algo mal ou sou ele próprio, caminhando pelo deserto, e como castigo rastejo-me com essas feridas que ardem e me calam?
O gosto em minha boca era de bosta. A única coisa que encontrei foram meros estercos ao qual me deliciei como uma torta. Era o mínimo que queria e me fartei.
O rosto já se encontra em carne viva e cobras me perseguem talvez, alimentadas de força de vontade do sangue que ecoa seu odor, com apenas um destino, que é me entregar. A pedra. Que tipo de lápide seria?
Sou um foragido espiritual, mesquinho, perdido em um retângulo que diminue e diminue...que pedra?
A lápide, há vejo sempre, lhe beijo e coloco flores, e a odeio como o sol, como o vermelho grudado em minhas mãos, como as cobras que agora se enrolam em meus pés e me envenenam, mas que, a dor bem maior é ausente e se encontra viva em algum subsolo ou céu ou em meu quarto que me prende. Ainda uso em meu dedo médio um rosário, onde estimulo minha perdição asquerosa e banal.
Quem deixei atrás? Um som que desvia de mim e pressiona em minha mão, a fantasmagórica minha imagem que se forma no sangue. A lápide onde resido tem minhas iniciais. A pedra?
Não sei a resposta. Na minha cabeça apenas vem a idéia de tentar apedrejar minha alma. E acho que, eram três horas da manhã. Me recordo de Gregor Samsa e adormeço.

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