No entanto...

Uma vez,em um pedágio de vagabundos conhecidos da cidade,me pediram dez centavos.

Noutro dia, outro "ser ou o nada", com uma graxa na mão, me pediu em troca de seus serviços, dois reais...

Ao passear na péssima noite da cidade embalsamada que resido,um psiu extravagante da prostituta desdentada me arrepiou.

Ao tentar captar a lúgubre feição do meu povo feito de farinha,me disseram para não sair as ruas com tão coisa.

A melancolia combina com o expirar! E o meu bafo segrega o que nada tens de mim!

Lembro da arma que meu pai possuiu quando tinha sete anos.

Que arrependimento!

Para menores

Foto: Alex Pereira
http://olhares.aeiou.pt/fotografopontopt

Shame

Estive distante, talvez até mesmo de mim. Via um pequeno reflexo como um vulto, atrasado... eu era isto. Meu retardo era prudente, precavido. Mais vale inundar o corpo, bater pregos no crânio do que perder-se dentro de sua alma.

- Sinto muito - Dizia ao meu corpo.

Ele respondia mostrando suas marcas, algo no tom roxeado, escuro e sórdido de se observar. Em meu pequeno atraso, lhe estendia a mão em vão e sem culpa. Não sentia-o, mas sabia que sua carne (minha carne ou EU?) estava podre.

Dei uma chance...
Na plena vergonha...
Ainda em atraso...
Há separar você do vazio que sempre existirá!


Colapso


"A única coisa que invejo numa criança, é o seu sono
E o que mais admiro, é a sua crueldade"





Enquanto se espera

"Sou submisso à imagem. É ela que pede para ser enquadrada, é ela que se joga ao meu olhar."

T. Bendict

Eu, que tu conheces tão bem


Hoje, enquanto lavava a louça, me permiti fazer o que a muito não faço: imaginar.
E fiquei me lembrando do que você havia dito, sobre como seria seu futuro perfeito, o que me fez pensar no meu também. Mas esse não é o caso.
Fiquei imaginando você... sentado numa cadeira de madeira confortável e robusta, escrevendo numa máquina antiga em cima de uma escrivaninha, de madeira também. Ao lado, uma janela que dava pra um jardim, que antes era florido, e agora estava coberto pela neve do inverno, com uma árvore grande, velha e esquelética, mostrando apenas os galhos nus sem folhas, com uma lareira queimando grandes toras de lenha... um som baixo ao fundo, podendo ser Joy Division ou Beethoven...e ao lado uma espreguiçadeira com um chale e uma mulher (sim essa foi a parte que me instigou).
Fiquei pensando no que você disse sobre as prostitutas, e pensei, nós nunca mencionamos isso antes. Não falamos sobre sexo e coisas que, no mundo de hoje é normal e até primário numa pessoa falar. Não conheço esse seu lado.
Mas enfim... é só imaginação, que me levou a pensar nisso... Sinceramente nem sei porque comecei esse assunto... acho que por falta do que fazer (mentira, tenho muito o que fazer).
Deixa pra lá, boa noite!
Amo-te!
Eu, que tu conheces tão bem



*Em algum momento, em algum lugar? Uma nova carta que encontrei, na "nova casa" onde estou.
A carta não contém endereço, nem nome... apenas um coração enorme, pintado de batom preto e um beijo (provavelmente doce) ao centro.
Comecei a derrubar as paredes do meu quarto. Procuro por todos os lugares, mais uma motivação em escritos de pessoas que conheço... em instantes.
Mas tudo, já fizeram anos. Nem mesmo sei. Tenho o rosto dela em mim, e o seu belo vestido que ela mesma fez para um show que tanto aguardou.

T.B

As razões e O Algo quando sei

Passei a maior parte do tempo, por um longo tempo... mordiscando meus dedos. Havia uma necessidade de não sentir, não tatear o quer que seja. Mas também bafejei, para acalentar-me.

-Posso inspirar? (Lavando o que resta das mãos)
-Não. Expirar... saiba que você está, onde sua ânsia se admite, onde não precisa ser tão jovem.
-Mas sinto uma falta. Preciso inspirar e até, se possível lhe dizer, que sei bem quem sou.

Não existe sangue escorrendo com a água. Há algo! Perceptos?

Criei com alguns cuidados vínculos tais, que aos poucos apagavam de mim: minhas impressões, meus orgãos, minha sanidade serial, a imbuída crença nascente, a linguagem, os et ceteras.
Quando resolvi apenas expirar.

-Você compreende que não adianta lavar-se? Qual a intenção de manter-se limpo?
-Quero apenas adregar... sentir-me longe. Se possível lhe dizer, que sei bem quem sou.

Tive hábitos com o passar de sombras. Sabia que estava em cena, mas não era, Esperando Godot. Era o cotidiano de um mordiscador, onde me encontrava na terceira pessoa e oblíquo.
Eu pedi apenas algumas vezes, dancei com O Algo nas mãos, implorei como uma virgem ao ser penetrada. Não quis!

Eu não quero, pois sei muito bem...quem sou.



Sua nudez em 24 horas

Quero ter mais, mais 24 horas
Será preciso desligar o abajur
Viver, viver, não mais que 24 horas ou segundos



Comiseração

Você está aqui?
Com suas mãos, deseja-me.
Aperte-me com suas pernas entre meu pescoço.
O pulsar de minha veia já se extinguindo, e o prazer se despede...

Por comiseração!

Mas você sempre crerá, que irei viver por cento e cinquenta anos.
Mesmo após de me castigar com sua religião, seu Messias.
Oh! D'us, como diria os Judeus.
Sonhe comigo. Sem que meu rosto se enrosque nos arames.
Embebede-me, jogue-me ao esgoto, onde os vermes não me consumirão.
Já consumido... por ti

Por comiseração!

Não amargue meu jejum. Minha saliva fede.
Somos insetos, tão pior que Gregor.
Você se despede: "Amor..."
Já não estava com a porta aberta.
Lhe digo: "Amor..."
Você nunca existiu.

Por comiseração!

Observo meu corpo, vazio até de pêlos.
Tento tirar o tumor que cobre meu ânus.
Nu, da maneira que você explorava-me com seus desvarios.
Enrijeceu em minha alma todas as suas pragas.
Mas duvido de algo além vida, e tudo que foi dito...

Por comiseração!



Vômitos e perfume nas manhãs

Ela caminhava logo cedo, antes até, de qualquer som ou luz vinda do horizonte com seu contraste e composição que embeleza qualquer cenário decadente, frígido.
Dela tenho as observações precárias de uma boemia buscada por mim, como escritor, músico, de um parvo. Talvez tenha que me despedir dela ou até vê-la cortar seus pulsos, e ajudá-la levantar seus braços, lhe acalmar caso queira renunciar da ideia. Dizer, NÃO! Sorrir para ela.
Ela caminhava logo cedo, antes até, de Deus dizer bom dia para os pássaros, soltá-los.
Senhora! Não acorde, vamos?
Ela podia escrever até horas da noite, à luz de velas. Um candelabro pende, suspenso, cortando a sombra com seu fulgor.
Sinto muito senhora, chore por sua perda, se mate por ela. Eu faria o mesmo. E antes, antes do nascer de algo, me jogaria numa lembrança que nunca tive.
Mas sou um observador incrédulo, e tenho como a verdade nossas incertezas.
Você como uma velha, me inspirou a desistir sempre. Fomos companheiros através de um vácuo.
Lhe vi entre vômitos, ajudei a suspender seu rosto. Com meus dedos, me lambuzei com o que veio de você. Tinha gosto de algo velho. Velho como seus papéis, escritos com pitorescos deboches. Se você me pedisse, lhe faria uma sopa com os restos de seus escritos.
Ela caminhava logo cedo, antes até, de sua vida existir.
Ainda sinto seu perfume nas manhãs. Em todas as manhãs. Penso em levantar, mas pesa o mínimo desejo de lhe ver.
Saiba que tenho as melhores lembranças vindo de sua velhice, do seu desamor, sua indiferença.
Ainda hoje irei sujar-se de vômito, por você.



Alusões, não Ilusões. E uma foto perdida

Tapei os ouvidos para os barulhos indulgentes, num sossego descriminado.
Quero apenas ouvir algo vindo de você, da maneira que me foi dito quando não nos conhecemos.
Ainda não nos conhecemos!

Mas me resguardo de minhas verdadeiras intenções, num silêncio aparente. Lhe clamo, sem te ver, sem ao menos ter-lhe tocado, de saber que o café está sempre frio. A cama sempre arrumada.
Sois uma cria dissemelhante, e teu dorso reflete-me...

Em cartas inacabadas; em letras que agora não entendo; em desejos que caminham inseguro; nas dúvidas que não existem por si só. Que nome poderia te dar, a não ser, Nunca ?
Lembro-me do Sonhador, em seu passeio pelas ruas geladas de São Petersburgo. Talvez possa lhe contar sobre mim, ou sobre nós. Sei. Você não existe!

Mas, que tormento é este?
Por que não se entregas há mim, nem em meus sonhos?

Desde agora não cochilo mais. Fechar os olhos.
Oh! minha apertura.
Penso apenas, em carregar seu corpo para o jazigo, do qual em minha tribulação lhe destinei.

Com sinceridade e amor!

Atenciosamente, T. B.

03/06/1969



Fotograma

Para uma nova sensação no enquadramento
A composição através não apenas das cores matinais
Verter os símbolos de um clicar
Paralisar o composto de uma miséria
Instruir ao negativo

Frames por segundos

Piscar e passar desapercebido
Envenenar-se na sala escura
Não negar o paralaxe
Iluminar o sexo com flashes
Dissabores sem eixos

Frames por segundos