Parte II - Um Conto de Natal
A neve cai, estou debruçado na janela. É noite, as luzes da cidade, seus prédios com seus piscas me deixam em transe. Terei que ficar novamente silencioso,sem respirar,se me mover? Crianças correm com um velho, sorrindo. Ele parece no seu íntimo muito triste. Olha para mim, lhe dou um balanço de mãos.
Fecho a janela, escuto vozes na sala, terei que correr para não ser visto. Não importa, sou invisível. Coloco meu saco de pano na cabeça e vou ao sótão.
Chegaram. Ouço a felicidade momentânea. Estou com as mãos na parede e a cabeça para baixo, estou enjoado, tonto, minha cabeça tine com sinos gigantes dentro do meu ouvido. É o câncer, me deformou e este será meu último natal. Nunca tive um natal, não ligo para bobagens. Seria bom ter um natal. Ouço sorrisos, os sinos param de tocar. Aleluia. Mataria agora mesmo um padre.
No pano que mantenho em minha cabeça, está a resposta, a ira, o desprezo, o refúgio, a salvação, o paraíso...Eles se divertem com suas músicas alegres, tapo os ouvidos, o som do amor.
É hora de descer, são 23:45, irei dizer: " Surpresa", e o câncer escorrerá em suas caras. Não, tenho que esperar, seus costumes se repetem todos os anos, previsto.
Ando lentamente até o quarto. Já está bêbado. Ascendo o abaju, estou ao seu lado, imperceptível. Pego o travesseiro pausadamente, o sangue escorre pelo meu nariz manchando em uma forma horripilante meu capuz.
- Olá - Suspiro em seu ouvido.
Ele se assusta e acorda. Tapo sua respiração, ele se debate.
- Você não irá comigo. Não é a mesma coisa. Não irei quebrar a parede. Você não irá comigo. Ahhhh! - Imóvel. Retiro o travesseiro, sua boca aberta com seus dentes amarelados sorriem para mim. Ouço uma badalada.
Tenho pouco tempo. Lhe observo pelo buraco na parede. A lâmina brilha em minha mão. Abro a porta, caminho e me observo no espelho. Me aproximo. sinto o vapor da água que desce do seu corpo, sua costa branca me corrompe. Nunca vi algo assim.
- Não sou minha mãe - Digo.
Ela se vira e lhe enfio minha foice várias vezes. O vapor se mistura com o odor pesado carmesim. Ela se encosta na parede e num estranho movimento, desliga o choveiro. Ouço uma badalada, agora mais distante.
Desligo a luz do sótão. Estou cansado, fraco, sangro. O último sino virá até mim.
Os passos na escada rangem. A luz se ascende, tudo está turvo.
- O que você fez meu querido? - Uma voz doce.
Ligo o fonógrafo com uma música clássica, uma ópera que ela cantara numa catedral, em uma bela primavera. " Meu querido", novamente ela diz. Com as mão no peito, seu coração se machuca com aquela música, ela se contorce e seu coração pára de soar.
- Ohhh! Véronique, também tenho uma vida dupla. Você não está apenas aqui.
A casa está vazia. Ouço o último badalar quase que, como um côro de anjos reunidos em um salão de ecos.
A neve cai, caminho até a frente da casa. O frio me paralisa e as luzes, os piscas, me deixam em transe. Já é natal. E me recordo de ter tido o mesmo sentimento...debruçado na janela.
3 comentários:
Well... Agora (quase) sempre eu posso vim aqui e comentar... ;-)
Adorei seu blog, espero ansiosamente o fanzine number two,
yippee!
to muito orgulhasa de vc
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