- Tenho agora um bebê - Me arrepio com um descontentamento que tento esconder.

Ficamos sério. Não olharei para seus olhos. Não pensarei sobre isso.

- Eu tenho que ir, você sabe. Elas choram, querem proximidade sempre da mãe, sempre estão com fome - Ela sentiu o mesmo que eu. Sem culpas,sem culpas. Não podemos disfarçar.

Penso que fez a escolha certa. A vida "comum" não me atrai, ela seria uma monotonia. Ela iria dizer, "Não fui eu que escolhi", eu diria...não, não diria nada!
Passear com uma criança, meu filho, meu...vás, prefiro ficar.

- Sua unha está quebrada - Era a maneira mais fácil. Sorria. Espetacular.
- Segurei com força o lençol - Sorri e afaga seu rosto.
- Essas coisas são simples ou estou sendo enganado?
- Não são. Como posso lhe dizer sem que meus olhos lacrimejem - Já brotavam.
- Fiz o melhor café que já tomei esta manhã - Eu disse.

Éramos amigos por termos conversas lineares, não rápidas, sobre tudo.

- Você sempre faz o mesmo! Café solúvel, leite quente, chocolate e canela - Ela me conhece, que vergonha
- O gosto muda com a impressão do dia
- Eu sei. Antes de ir quero lhe dizer uma coisa

Sabia que não era um segredo. Sempre me dizia isso antes do final de nossas conversas. E sabia que não nos veríamos mais.

- Há uma luz no meu quarto, ela é amarelada, um pouco vermelha. É a luz de meu abajur. Ligo todas às noites antes de dormir e a desligo quando acordo. Desculpe-me mas...é estranho, a sensação que sinto. Sempre sinto que preciso apenas daquela luz todas às noites. Um crepúsculo apenas meu, no momento em que sinto minha fragilidade. Como diria Kafka, o momento mais difícil para o "homem". Estou feliz, acho. Sabe que não tenho certeza sobre nada de mim. Espero apenas à noite e espero sempre acordar.

Ela se foi. Sem abraços. Se foi...
Comprei um abaju, agora tenho meu crepúsculo.


Para Carol, minha amiga e seu lindo bebê que vi apenas por foto.
Para Tatiana, minha irmã. Que terá em breve sua pequenina princesa.


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