Em breve - SESSÃO 3
Apenas o Aroma do Dia
Saí do coma. Estive ausente, sem percepções. Como percebi? Havia um clarão vindo ao meu encontro, deitado. Tentava movimentar meu corpo, esforçava-me, minha boca tapada como um doente de avc. Ouvir, ouvia alguém, havia, ouvir, ouvia algo, haviam, não sei, há!
Era um caos de pensamentos. Na verdade, não. Queria que aquela luz fosse rápida, era na luz que apenas pensava e imaginava ser eu, meu espírito, o átomo moribundo ou molécula, sei lá, que me fez existir, se existo, se sou realmente, se há de ser um dia, se já fui e que aqui estou em algum lugar, escrevendo agora para uns parvos...não. Eu que sou o apoucado.
A luz veio e retornei. O tempo, quanto durou, não sei talvez, mas tenho certeza que sim, digo, nananinanão. Foi um salto da cama e estou agora sentado. Olho completamente nu, para um lado, para o outro, sem móveis, sem rastros de ratos, aperto um pouco forçando os olhos para um canto e alguém de cócoras está ali. Não disse anteriormente que havia, ou haviam, ou que houve, ou que haverá? Acho que sim, não importa, não para vocês, não é?
Pois, ela ou ele, digo eles ou elas, ou eles ninguém, se aproximava de mim, se aproximavam...
- Pode sair pequenino - com uma voz sedutora - já é dia, não vê? Pode sair, abra apenas a porta.
Caminhei até a porta, fazia frio, e me agradava mesmo despido, aquela temperatura, aquele aroma desconhecido.
- Vá, vá, devagar - A coisa dizia
Olhava para trás e depois para frente. Cheguei até a porta. Tinha uma chave enorme dourada, o que me trouxe lembranças de algo ruim que me aconteceu. Comecei a abrir. O bicho com sua vozinha, ainda falava. Abri a porta e era noite. Olhei-a assustado e sem entender. Retornei para cama e aquilo ainda me dizia para ir até lá porque já era dia. Novamente ia até lá e era noite, novamente ia e nada mudava, ia novamente e era a mesma coisa, e a voz dizia e era noite, e a vozinha não gritava, não falava nunca diferente e era noite, e a chave sempre era dourada e era noite e era, será que era, será que foi, será que ainda estou no coma, será que a chave é dourada?
Era noite...
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